Uma introdução ao passado recente da história do país. Com direito a romance e muita licença poética. Desta forma é possível definir “O que é isso, companheiro?”, filme de Bruno Barreto, de 1997. Os personagens representam velhos conhecidos, como Fernando Gabeira, Franklin Martins e outros atores políticos atuais. No enredo, um dos fatos mais marcantes contra os militares nos 20 anos de repressão: o planejamento do sequestro de Charles Elbrick, embaixador dos Estados Unidos.
Para quem conhece bem a história do golpe militar de 1964 e suas consequências, é necessário muita paciência para a poesia. Romance, heróis e estratagemas mirabolantes que não existiram, fazem parte do roteiro. Porém para quem só tem os livros de História do ensino fundamental e médio como referência, é uma forma de compreender melhor tal período, as barbáries cometidas e os ideais dos jovens considerados, no sentido mais pejorativo, guerrilheiros. Entender os fatos de uma forma mais real é o tema de um próximo post, com outra indicação de filme.
Além disso, tal filme é um marco no cinema nacional. A partir de seu lançamento viu-se possibilidades de produções renovadas, com resultados aptos a competirem em grandes concursos cinematográficos – tendo sido, inclusive, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A sétima arte brasileira passou a deixar de ser exclusivamente reconhecida pelo apelo sexual, abrindo espaço para argumentos e roteiros com histórias melhor desenvolvidas, assim como deixou uma porta aberta para o investimento público no setor.
P.S.: No dia 1º de abril completa 47 anos do golpe militar no Brasil.
8 comentários:
Adoro esse filme, acho ele importante para o entendimento dos limites para tudo que envolve pessoas. Tando os que lutam por liberdade como os que acreditam que a privação dela trás mais benefícios. Um obra prima do cinema! E traduzido perfeitamente nesse artigo, quem não viu vai querer ver!
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Fernanda, como eu já havia te comentado, achei perfeito teu post de estréia! Nada como uma profissional da comunicação para fazer um texto organizado e claro! Agradeçemos a participação (e já com promessas de outras a se seguirem..!). Talvez possamos aprender contigo, neste sentido.
Quanto ao filme, assisti (na época) e gostei, como tu dissestes, dentro do contexto... talvez hoje seria necessário contar a história de uma outra forma.
Mas essa questão da "romantização", que tu colocas, considero realmente um ponto importante. Filmes como "Cidade de Deus" trouxeram o que se questionou como "estetização da violência", em contraponto à seriedade com que trata o tema. Penso que vai pelo mesmo caminho.
Linguagem ou apelação? Dramatização, formatação ou disfarce? Fica a critério de cada um.
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Esse foi o primeiro filme nacional que eu assisti e admirei. Isso lá, na época do lançamento.
Entendo a questão do romancear, uma por ser baseado num livro do Gabeira e não em livros oficiais de História; outra pq se fosse a história como ela realmente aconteceu, provavelmente não fosse atrativo aos olhos do público. E todo mundo produz para as pessoas, não para ficar guardado.
O cinema nacional já evoluiu bastante depois dele, mas se compará-lo com as produções anteriores, nota-se perfeitamente o desenvolvimento de conceitos, edição, finalização...
Fernanda, a sua resenha me provocou a seguinte pergunta: até que ponto uma obra de arte tem compromisso com a "realidade" ou com os acontecimentos históricos?
Me lembro de uma frase no filme "Baixio das Bestas", de Cláudio Assis, em que um pernogem afirma que "o bom do cinema é que a gente pode tudo".
ops, personagem
Eu, particularmente, acho que respeitar a realidade dos fatos pertence ao documentário. Os demais gêneros têm essa liberdade. Ali onde me refiro na paciência é pq, quem estudou um pouco sobre a ditadura, leu e assistiu mais fontes, sabe que o Gabeira era um caca, não fazia nada... e no livro que tornou o filme, posa de herói. :)
Eu nunca assisti a esse filme, mas fiquei com vontade depois desse artigo. :)
Este, foi o primeiro filme nacional que eu realmente gostei.
Não apenas pelo conteúdo 'histórico', mas principalmente por não ter o apelo sexual como seu carro chefe.
E realmente, na época, o filme deu muito mais sentido ao que estava escrito nos livros de história do Brasil que tinha na mochila.
Sem contar o elenco de grandes nomes como Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Luis Fernando Guimarães, entre outros... que engrandeceram infinitamente a obra.
Confesso...
O post foi perfeito... e fala de um dos meus "querinhos"(filmes)
Parabéns à blogueira pela belíssima resenha.
E à equipe em si...
Virei seguidora!!!
Juli Donini
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