sexta-feira, 29 de abril de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

mês de maio: ciclo das mães

Neste mês de maio, escolhemos exibir filmes com narrativas relacionadas à temática da maternidade, procurando variar as nacionalidades e gêneros das obras:

dia 03 - Tudo sobre minha mãe (Almodóvar, Espanha, 1999)

dia 10 - Minha vida sem mim (Coixet, Canadá / Espanha, 2003)

dia 17 - Adeus Lenin (Becker, Alemanha, 2003)

dia 24 - Casa de areia (Waddington, Brasil, 2005)

dia 31 - Grace (Solet, EUA /Canadá, 2008)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Literatura, Cinema e Teatro: gêneros


Cinéfilos e entusiastas da arte têm a oportunidade de participar do curso de extensão Literatura, Cinema e Teatro: Gêneros, promovido pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) em Bagé. Conforme os organizadores, a proposta é ampliar a capacidade de interpretação e apreciação diante de obras cinematográficas, enfatizando o elemento comum entre elas e obras teatrais e literárias: o texto. Os encontros são realizados na sala Multimeios do SESC-RS (Barão do Triunfo, 1280), às terças e quintas-feiras, sempre das 12h às 14h. o curso é totalmente gratuito e aberto a toda a comunidade acadêmica e local.





unipampa.edu.br/portal/noticias

domingo, 24 de abril de 2011



Finalizando o ciclo platino deste mês de abril!

sábado, 23 de abril de 2011

encontro "Falando em Cinema: sin fronteras"


No dia 20 de Abril aconteceu um encontro muito especial para a 7ª arte na cidade de Bagé. Estiveram reunidos na Casa de Cultura Pedro Wayne, os cineastas Zeca Brito (bageense) e Gonzalo Rodrigues (uruguaio).




O evento, que foi promovido conjuntamente pelo Sorro Cineclube, Unipampa, IFSul e a Casa de Cultura, teve na parte da manha uma reunião inter-institucional com os cineastas para discussão de projetos, onde se firmou a parceria para constituir uma rede sólida que articule e promova o cinema na região, tendo como objetivo inicial, arquitetar o Festival de Cinema de Fronteira, previsto para o fim do ano, em data que será brevemente divulgada aqui no blog.




Na parte da tarde houve exibição de produções dos dois diretores: La línea Imaginária, de Gonzalo Rodriguez; e O Sabiá, de Zeca Brito, seguido de mesa redonda com os diretores para discussão das obras, sua realização e seus contextos.




Ficou evidente para os presentes na discussão, a qualidade das obras e a sensibilidade dos diretores em captar as peculiaridades culturais nos diferentes cenários que filmaram. Línea Imaginária nos trouxe um relato genuíno e sincero dos habitantes da "fronteira" entre Brasil e Uruguai, na cidade de Aceguá, seus constumes, dia-a-dia, o cruzamento das culturas e idiomas. O Sabiá revela o "mundo" dos quilombolas da região do Rincão do Inferno, captando com muita sensibilidade, a identidade e o cenário de uma família que lá habita.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

o jogo do zodíaco (resenha)





Os grandes filmes demoram a ser descobertos. Zodíaco (2007) passou despercebido pelos cinemas, pelos festivais, pelos camelôs, pelo Pirate Bay e por todas as outras redes oficiais e clandestinas de exibição. Talvez, com o passar dos anos, o filme de David Fincher comece a conseguir parte de todo o reconhecimento que um dia vai merecer.



Os filmes de "caça ao serial killer" sempre foram tidos como um gênero menor, como filmes "B". Raramente mereceram por parte do público uma atenção que fosse além da sala de projeção. Basicamente, os espectadores esperavam por sustos e pela surpreendente revelação do final. E quanto a isso eles não podem reclamar, pois o cinema americano traz todos os anos inúmeros exemplares do gênero. Agora, um exemplar do gênero como Zodíaco é raro, se não único.




Em 1968, jornais de São Francisco, CA, começam a receber mensagens cifradas de alguém que diz ser o responsável por uma série de assassinatos acontecidas em cidades próximas. O suposto assassino, que se identifica pelo nome de Zodíaco, ameaça dar sequência aos crimes caso os jornais não publiquem as mensagens.




No filme dirigido por David Fincher (Seven, Clube da Luta) acompanhamos os jornalistas do São Francisco Chronicle, Robert Graysmith (Jake Gillenhaal) e Paul Avery (Robert Downey Jr), e os policiais David Toschi (Mark Ruffalo) e William Armstrong (Anthony Edwards) nas investigações para tentar chegar à pessoa que se esconde por trás do codinome Zodíaco.




Fincher sempre se destacou pelo primoroso trabalho técnico. Porém, nesse filme ele superou as expectativas. Desde a primeira tomada exibindo a noite de São Francisco iluminada pelos fogos de artifício é impossível não dizer que poucos trabalhos de fotografia no cinema conseguiram captar de forma tão esplendorosa um cenário urbano. Juntamente com a fotografia de Harris Savides, os trabalho de direção de arte e de figurino conseguem ir além das monótonas reconstituições de época. A sensação ao assistir a Zodíaco é de estar vendo um filme que foi rodado na década de 60 com a tecnologia do século XXI.




Impressiona a facilidade com que o filma transita por vários gêneros, passando do terror para a comédia e da comédia para o drama de forma bastante convincente. Aliás, grande parte da força do filme se deve a alternância de situações dramáticas e cômicas, onde o diretor consegue construir um jogo de contrastes que causa surpresa e nervosismo no público. Difícil não ficar aflito com a cena que mostra um casal de namorados sendo atacado de forma tão violenta na beira de um lago em uma bela tarde de primavera. É como colocar um filme de terror dentro de uma comédia romântica.




Apesar de as sequências de assassinato estarem presentes e serem muito bem construídas, elas são secundárias no filme. O que interessa ao diretor é explorar a obsessão dos personagens para descobrir quem é o Zodíaco. Esse enfoque revela uma evolução do cinema de Fincher se comparado ao seu primeiro filme policial. Em Seven as angústias dos personagens ficavam em segundo plano com relação ao jogo sádico do assassino, em Zodíaco o jogo é figurativo e os personagens são a essência.



O que contribui para essa escolha do diretor é o excelente trabalho do elenco. Principalmente de Robert Downey Jr, que interpreta o jornalista Paul Avery com total naturalidade, mostrando que atuar vai muito além de usar o verbo e as lágrimas.



Outro destaque é o roteiro escrito por James Vanderbilt. Ele consegue registrar de forma muito precisa todos os detalhes que envolveram o caso: o nome das pessoas, dos lugares, a coleta de evidências e a consulta de datas e documentos. Graças à mágica da edição, usada com a sabedoria de quem entende que não apenas as palavras dialogam, mas as imagens também, torna-se um prazer acompanhar um filme que durante os seus mais de 150 minutos nunca se torna confuso ou cansativo.



Zodíaco mantém o foco no processo de apuração e principalmente nas dificuldades que atrapalham ou que muitas vezes inviabilizam esse processo. Entre as quais a vaidade, que acaba colocando jornalistas e policiais em campos opostos, terminando por comprometer a investigação. O filme também ressalta de forma muito perspicaz as dificuldades de se trabalhar em conjunto numa época em que computador era artigo militar.



Ao abordar o trabalho de duas profissões que lidam com a "verdade" e que buscam obsessivamente encontrar respostas, Zodíaco parece afirmar que todas as vezes que o ego fica acima do compromisso e a tecnologia abaixo do esperado a única certeza que resta é a da dúvida.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

curso de Extensão, gratuíto, aberto à comunidade

Literatura, cinema e teatro: gêneros

Literatura, cinema e teatro: gêneros

(curso de Extensão, gratuíto, aberto à comunidade)


terças e quintas, 12h às 14h

local: Sala Multimeios do SESC-RS (Rua Barão do Triunfo, 1280)

inicio: 26 de abril

duração: 30 hs nesse semestre, continuação (mais 30 hs) no próximo


inscrições e maiores informações pelos e-mails:
ishra21@yahoo.com.br
fabiane.lazzaris@gmail.com

porteiras.unipampa.edu.br/bage

quarta-feira, 20 de abril de 2011

a dor do conhecimento




"Ágora era a praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica. Normalmente era um espaço livre de edificações, onde as pessoas costumavam ir configuradas pela presença de mercados e feiras livres em seus limites, assim como por edifícios de caráter público. Enquanto elemento de constituição do espaço urbano, a ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro para comprar coisas nas feiras, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania. Por este motivo, a ágora (assim como o pnyx, o espaço de realização das eclesias) era considerada um símbolo da democracia direta, e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto. A de Atenas, por este motivo, também é a mais conhecida de todas as ágoras nas póleis da antiguidade."


(pt.wikipedia.org/wiki/Ágora)


Ágora é o título de um filme de Alejandro Amenábar (Espanha, 2009) que narra o final da vida da filósofa, astrônoma, etc. Hipátia de Alexandria (interpretada pela ótima atriz Rachel Weisz), a qual nasceu aproximadamente entre 355 e 370 AD, e morreu em 415 AD (completou de quarenta e cinco a sessenta anos, portanto).





"Hipátia distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica - uma extraordinária diversificação de atividades para qualquer pessoa daquela época. Nasceu em Alexandria em 370. Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens. Segundo todos os testemunhos, era de grande beleza. Tinha muitos pretendentes mas rejeitou todas as propostas de casamento. A Alexandria do tempo de Hipátia - então desde há muito sob o domínio romano - era uma cidade onde se vivia sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava dominar a influência e a cultura pagãs." (Carl Sagan, em Cosmos)


Trata-se de um período pouco retratado da História, nos primeiros anos do cristianismo disseminando-se pelo império, no qual podemos ver que os cristãos deixaram de ser "pobres vítimas indefesas" já muito cedo, passando de perseguidos para o mesmo patamar de algozes desaumanos o qual combatiam. Por outro lado, o fim da escravidão formalizada consistiu no final de um sistema social em crise, o tipo de ruptura que invariavelmente resulta em ondas de violência endêmica extrema.


Ah, sim: os eventos se passam ao redor da "mítica" biblioteca de Alexandria que, na Antiguidade, foi um dos mais fabulosos resultados da expansão promovida por Alexadre, o Grande (mas isto é outra história... e outro filme também). Podemos assistir aos acontecimentos hipotéticos que levaram à tétrica destruição da biblioteca, bem como de toda escola ali desenvolvida.


E isto é interessante para as gerações atuais: dar-se conta de que hoje, a informatização tornou a perda de dados algo virtualmente impossível, porém nem sempre foi (ou ainda é) assim. O  conhecimento é acumulado dentro de certas condições econômicas, políticas, culturais... através de substratos de registro específico (na época, principalmente papiros). E assim como o pensamento crítico sempre representa uma resistência à brutalidade dos sistemas totalitários, a informação e a sabedoria sempre podem ser destroçadas pela fúria da barbárie... brutalidade e fúria ques ainda são realidades miseravelmente humanas.





Mesmo dentro deste contexto de enorme violência, o filme sofre daquele problema costumeiro da "abordagem macia" dos fatos, não revelando um quinto do tipo de crueldade que se tinha por hábito naquele período histórico, presenteando-nos com um desfecho muito mais generoso do que o que provavelmente, de fato, aconteceu.


De outro ângulo, somos presenteados com as habilidosas imagens do planeta Terra visto de fora, do espaço, o que pode ser visto como uma imagem de totalidade, demonstrando a noção de como nossos dramas fúteis são insignificantes diante da grandiosidade do cosmos -- grandiosidade acessível para uma consciência esclarecida, o que a protagonista persegue até suas últimas forças, dentro de um torvelinho de paixões e conflitos humanos.


Hipátia nos é apresentada como uma personagem feminina forte e coerente, definida por suas convicções e escolhas, não por um romance ou por não ser um homem. E isso, espantosamente, mesmo que o roteiro retrate os seus  sentimentos e relações muito próximas com alguns dos homens de Alexandria, e também a consciência dela sobre o desvalor das mulheres na época, tidas como "seres biológicamente inferiores," portanto incapazes e se destacar por meios naturais (no seu caso, em assuntos intelectuais).


A personagem tem sua profundidade acrescida de mais um degrau no momento em que, desesperada pelo absurdo da situação, ela recorre ao hábito de sua condição sócio-econômica de agredir um escravo (no caso, apenas verbalmente). Não, Hipátia não era uma santa, e seu trabalho inestimável só progrediu porque tinha escravos a seu dispor. Mas, e se pensarmos hoje, quantos de nós não dependem de pessoas em funções de "escravos" (assalariados ou quase) para manter funcionando as suas atividades mundanas?


Por fim, trocando a escravidão formal por um sistema patriarcal ainda mais rígido em muitas concepções de cidadania e humanidade, o rumo da civilização que produziu a nossa passou por perdas inestimáveis, amenizadas talvez apenas pela beleza e valor dedicados à memória daquilo que foi perdido.


O nome do filme poderia ser "Hipátia", porém creio que a feliz escolha tenha sido para enfatizar a importância do espaço público de convivência, de manifestações sobre crenças e normas, e que não está isento de ser palco de agressões, ignorância e injustiças. Podemos ver isso no nosso próprio senado hoje, por exemplo. "A voz do povo é a voz de deus" pode ser um ditado de conseqüências perniciosas...


Por sua fotografia belíssima, atores competentes e temática muito relevante -- a dor inerente a quem quer saber além daqueles que os que o cercam -- , Ágora vale muito a pena assistir.





domingo, 17 de abril de 2011

nº 4 (resenha)



Visto que nem só de originalidade e refinamento vive o cinema, vim aconselhar o despretencioso e divertido Eu sou número quatro (I am number four - Caruso, 2010, EUA).

Dentro da categoria "ação", é interessante. Ao menos escolhe um dos lados, o de crítica à sociedade norte-americana, opondo-se assim a títulos como Batalha de Los Angeles, que é essencialmente ufanista.

Filme típico por apresentar chavões e personagens prontas (vilões feios, heróis loiros, "nerd" melhor amigo do herói, o mestre morto, a namorada proibida, a escola secundária como pano de fundo, etc.), mesmo assim não chega a ser completamente previsível. E conta com boas cenas de luta, explorando com criatividade os recursos computadorizados e de acrobacias coreografadas, o que me lembrou o ótimo X-men: last stand, de Brett Ratner.

Um dos elementos mais interessantes do roteiro é a forma como as personagens lidam com a fotografia, o vídeo e o uso da Internet. Aqui, a realidade instantânea da disposição pública de imagens no ambiente virtual é central no desenrolar da trama.  Até podemos nos por a refletir sobre esta questão, da "comunicabilidade X super-exposição", realidade com a qual muit@s de nós lidamos cotidianamente.

Mas a "mensagem" pode ser também: o mundo cotidiano da maioria de nós é apenas uma ilusão feita de pequenas misérias e jogos de poder fúteis, enquanto que o mundo real oferece perigos tão absurdos os quais, quando nos perseguem, nos fazem esquecer instantaneamente o resto, feito um fogo cauterizante. Não que seja algo original pra se afirmar... nem a melhor forma. E claro, isso depende de quem interpreta.

Obviamente projetado para agradar a gregos e troianos, e também para parir seqüências e /ou um seriado de TV, Eu sou número quatro pode ser digerido junto com pipoca e Coca-Cola sem contra-indicações!

domingo, 10 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

a cultura digital e o direito autoral (artigo reproduzido)

Em artigo escrito em parceria com Fabricio Solagna, do Gabinete Digital do Rio Grande do Sul, Manuela D'Ávila comenta os desafios de proteger o autor na nova realidade da rede digital


Estes primeiros dias de 2011 foram atribulados para o Ministério da Cultura (MinC) e para ativistas da cultura livre. Nestes três primeiros meses, a atual gestão do ministério alterou o licenciamento do site institucional e reverteu a proposta de reforma dos Direitos Autorais. Além disso, o MinC declarou que a principal política se concentrará no desenvolvimento de uma Indústria Criativa com forte valorização dos bens imaterias, através da propriedade intelectual.

Não faltaram, porém, vozes dissonantes. Principalmente dos ativistas da Cultura Digital e militantes do movimento do Software Livre. Por outro lado, há os defensores ferrenhos da mudança, que invocam questões de soberania nacional e de valorização dos artistas brasileiros. No entanto, surge nesse cenário uma terceira via que tenta mediar os dois lados desse debate. O fato é que, para além de rotulações, há duas distintas agendas em torno da propriedade intelectual em disputa.

Durante a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação da OMPI em Tunis, em 2005, o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou que se inspirava na ética hacker no seu modo de fazer política. Ele estava, de fato, pensando em como ser criativo ao driblar o modus operandi da política tradicional. O MinC se destacou internacionalmente naquele momento por ter como porta voz um representante da classe artística que estava pensando à frente do seu tempo. Não só por tentar utilizar tecnologias modernas, mas, principalmente, para emergir a diversidade cultural brasileira através das mídias digitais em um momento em que as influências culturais são transnacionais. Muitos, no momento, afirmaram que o multiculturalismo falaria por si só. Falaram, ainda, que pensar em um possível remake do tropicalismo no século 21 seria um desatino. Gilberto Gil viu a necessidade de, nas suas próprias palavras, "politizar as novas tecnologias".

Nestes últimos oito anos, houve pedras no caminho, por certo. Muitas das tentativas ficaram só no papel. Outras extrapolaram inclusive a capacidade do MinC de gerenciá-las. Os Pontos de Cultura, por exemplo, já ultrapassam 4 mil em todo o Brasil e atingem mais de 8 milhões de pessoas. Além disso, percebeu-se a necessidade e a potencialidade de uma outra agenda para o desenvolvimento cultural para além do tradicional caminho da indústria cultural. As mídias alternativas, as trocas culturais em rede e a inversão do financiamento público elucidaram um país que antes estava esquecido.

No cenário internacional, a agenda foi extremamente conservadora. Diversos países adotaram legislações rígidas em torno da circulação de bens culturais na Internet (são exemplos França, Espanha, Inglaterra, Austrália e México). Os EUA, desde 2001, adotam uma política dura. A chamada Digital Milenium Copyright Act já tentou prender diversos adolescentes e ativistas sociais por conta de possíveis "violações de direito autoral". Essa política teve seus representantes no Brasil, através do projeto do então senador Eduardo Azeredo, chamado de AI-5 Digital (o que nos permite uma ideia do teor das propostas), fortemente combatido pela sociedade civil militante das práticas colaborativas em rede. A resposta veio com um abaixo-assinado com mais de 150 mil assinaturas contrárias à proposta.

No que tange a Propriedade Intelectual (PI), o Brasil sempre teve uma atitude de vanguarda. Propôs, junto com a Argentina e outros países, a agenda para o Desenvolvimento na OMPI onde, inclusive, pautou outro rumo para os bens intelectuais. Contra as investidas das indústrias do norte, conseguimos garantir preços menos abusivos para o coquetel anti-retroviral e uma punição aos subsídios agrícolas americanos que tanto prejudicam nossa produção de algodão. Isso porque sempre distinguimos que, dentro de PI, existiam dois direitos: o direito autoral e os direitos de propriedade industrial.

Colocados todos dentro do escopo da Propriedade Intelectual, na maioria das vezes são empurrados como um pacote único para países em desenvolvimento, como medidas de "modernização". É o caso recente do ACTA, um acordo antipirataria que está sendo ratificado por acordos bilaterais sem nem ao menos passar pelos parlamentos.

Direito Autoral e Creative Commons

Desde a retirada da menção do licenciamento do site do MinC, antes em Creative Commons (CC), no dia 20 de janeiro, a polêmica foi estabelecida. Além de um valor simbólico, estabeleceu-se uma forte tentativa de se opor Creative Commons ao Direito Autoral, ou como se o primeiro não fosse necessário.

O projeto Creative Commons se inspira fortemente no Copyleft, nas licenças de software livre que permitem o compartilhamento de conteúdo. Iniciativas como a Wikipedia são baseados neste conceito e só são possíveis porque existe Direito Autoral e porque se utilizam desse para estipular algumas reservas ao contrário. Não é à toa que o copyleft é conhecido também como "todos os direitos revertidos".

O projeto CC teve origem com o advogado americano Lawrence Lessig, que lutou por anos. Ele perdeu para os principais lobistas da indústria hollywoodiana e resolveu, então, criar dispositivos legais que permitissem que as pessoas tivessem liberdade de criar e compartilhar conteúdos na Internet sem precisar passar por intermediários.

Os vídeos são antigos, mas para quem ainda não viu, indicamos este pequeno filme que explica melhor o projeto:




Nesse caso, é algo totalmente incoerente associar os commons com práticas de cópia ilícita, ou, como gosta de chamar a indústria do entretenimento, pirataria. A pirataria é a cópia não autorizada visando ao lucro. Isso é completamente diferente da cópia privada ou do licenciamento permissivo que indica ao outro o que pode ser feito com a obra.

Desde então, o projeto tem sido utilizado por diversos governos e tem ajudado artistas a terem uma relação mais direta com seu público. Casos não faltam: de Nine Inch Nails lá fora a Mombojó e Teatro Mágico no Brasil.

A ideia romântica do artista ou criador solitário que dedica sua vida às obras é uma parte da história. Há uma complexa indústria cultural ressaltada inclusive pela ministra Ana de Holanda – à qual se somam diversos tipos de profissionais – como uma indústria lucrativa que abocanha o maior bolo da fatia do faturamento cultural.

O fato é que justificar a defesa do direito autoral em nome dos "verdadeiros artistas" que estariam sendo prejudicados pela atual Cultura Digital é uma distorção. A tendência à monopolização se percebe em escala mundial e, no Brasil, apenas cinco gravadoras dominam quase 90% do mercado.

"Valorização do artista nacional"

Um dos argumentos que vem sendo usado diz que as obras seriam expropriadas por "grandes corporações" sem a devida remuneração dos artistas. Em alguns casos, supõe-se que grandes corporações estivessem utilizando uma militância internacionalizada a seu favor. Bem, basta dizer que são as grandes corporações de mídia brasileira que não costumam repassar o direito autoral.

Em ponto, porém, temos que concordar: no caso dos escritórios de arrecadação, o Brasil tem um dos melhores sistemas de captação. No caso da música, o ECAD tem um dos sistemas mais modernos, inclusive, com reconhecimento de músicas automático das emissoras de rádio, por exemplo. Ocorre que, para além da radiodifusão, o escritório costuma cobrar por metro quadrado em shows, festas juninas em escolas, teatros e, inclusive, em cinemas, como bem levantou Jorge Furtado. Ou seja, o ECAD tem o melhor sistema de arrecadação e o pior sistema de distribuição. O que ativistas questionam é, por que captar tanto se não há redistribuição?

Mas direito vai além da música. A lei restritiva do direito autoral também propicia que muitas interpretações jurídicas causem desatinos. Já não são isolados casos de fechamento de xerox em universidades (temos o exemplo de 2010, na Praia Vermelha). A lei fala em "pequenos trechos" e realizadas pelo próprio "copista", sem "intuito de lucro". Sabemos bem que a maioria das universidades brasileiras não dispõe de todo o acervo necessário. O xerox acaba sendo o local de acesso ao material necessário para os estudantes.

Mas não é só isso. O grupo GPOPAI fez um interessante estudo sobre o mercado editorial e, principalmente, sobre livros científicos e técnicos. O subsídio dado às editoras na forma de isenção de imposto, hoje, corresponde a cerca de 36% do seu faturamento. Além disso, chega a ser quase o dobro do investimento em cultura do MinC (quase R$ 1 bilão por ano nos dados compilados de 2006). Não vemos nenhum problema na subvenção para o fomento da Cultura e, muito mais, quanto à produção de livros científicos. Mas a lei impede que eles sejam reproduzidos em caso de esgotamento da edição, por exemplo. Além disso, por que não adotar uma licença permissiva, no caso de livros didáticos, já que possuem uma venda encomendada pelo poder público na distribuição nas escolas?

Pirataria e perdas na indústria da Cultura

Quando se trata de pirataria, o Brasil figura como um dos países de maior preocupação no cenário internacional. Há muitos anos, o país vem sendo citado pela Section 301, uma lista unilateral norte-americana dos países que não possuem métodos suficientes de combate a cópias ilegais. Por isso, todo DVD que assistimos traz, obrigatoriamente, comercial produzido pelas distribuidoras norte-americanas. Esses comerciais afirmam que a pirataria de DVDs é um roubo similar ao assalto a mão armada.

Porém, uma pesquisa recente feita em diversos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, demonstra que a conexão entre pirataria e crime organizado é muito mais propaganda do que realidade. Além disso, não há relação alguma com tráfico de drogas. De fato, para além de tênis e marcas de roupas falsificadas, a produção de CDs e DVDs piratas representa um mercado com baixa organização dependente, muitas vezes, de fornecedores caseiros ou de fábricas de pequeno porte. Demonstra, também, que a principal motivação para o crescimento desse mercado continua sendo o alto custo dos produtos originais, que estão muito distantes da atual classe média emergente (hoje um CD custa cerca de R$ 30 e um DVD R$ 80).

Mas o mais impressionante é a fabricação de dados desconexos apresentados como científicos quanto às perdas do setor. Fala-se em R$ 6 bilhões em perdas e mais R$ 2 milhões de empregos que deixam de ser gerados sem nenhuma metodologia ou dados mais concretos a serem verificados. O estudo pode ser acessado gratuitamente aqui.

Porém, essas justificativas são usadas em tentativas de radicalizar ainda mais a vigilância na troca de arquivos na rede. É no que se fundamenta o AI-5 Digital e agora o ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement), que pretende implantar uma vigilância direta nos provedores de acesso que podem desconectar usuários imediatamente quando detectada uma suspeita de troca de arquivos protegidos por direito autoral. Seria um monitoramento em larga escala, a favor somente de grandes distribuidores capazes de mobilizar grandes recursos em prol de seus direitos de intermediários.

Novas leis e novos direitos

Mesmo que a reforma da Lei do Direito Autoral já tenha passado por oito seminários e por uma consulta pública na Internet, não temos qualquer problema de debatê-la novamente. O esclarecimento é o melhor caminho para todos os lados e, principalmente, para a clareza de que temos que trilhar um caminho de desenvolvimento em prol de um outro direito de propriedade intelectual, que valorize realmente os produtores de conteúdo, os produtores de cultura, e que permita a criatividade na rede e a liberdade de expressão.

Precisamos do Marco Civil da Internet, para que sejam estabelecidos os limites da privacidade, a neutralidade na rede, onde cada ator, nesse cenário, tenha seu papel definido, sem avançar o sinal da liberdade em nome de uma falsa segurança.

Assim como no caso da meia-entrada, somente grandes produtoras se opõem a um direito conquistado pelos estudantes. Poucos privilegiados pelo Direito Autoral têm-se colocado contrários a uma rediscussão do tema no sentido de uma redistribuição de direitos que valorize uma cultura digital do nosso tempo. Estamos em um momento em que a juventude tem diversos espaços para expressar sua arte e seu talento, politizando as redes com sua linguagem e com seu protagonismo. Será mesmo que precisamos reprimir a capacidade de criação em favor do direito que só privilegia a menor parte?


(artigo reproduzido de congressoemfoco.uol.com.br)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

unipampa segue com seus cineclubes

Projeto de extensão em São Borja usa cinema para debater a atualidade.




www.unipampa.edu.br/portal/component/content

O projeto Sessão Pipoquinha é desenvolvido desde 2008 em São Borja e visa construir um espaço em que o cinema seja entendido como um meio para compreender a realidade, discutindo temas como cultura, cidadania, história e política, para dar alguns exemplos. A partir de um eixo norteador, cada exibição de filme suscita questões norteadoras que são compartilhadas com a plateia, fomentando discussões relacionadas e ampliando a experiência de assistir cinema. Neste ano, o eixo norteador das discussões é composto pela tríade mídia, memória e literatura. A entrada é aberta e gratuita para quem se interessar pela discussão proposta em cada exibição.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

c'est la vie (resenha)



Os filmes de James Gray provocam uma profunda experiência cinematográfica e humana. Quando um artista domina os códigos da sua arte e, além disso, consegue usar essa linguagem para abordar os mais angustiantes conflitos das relações humanas e do homem diante das suas escolhas, ele nos possibilita viver ou reviver algo que raramente o “mundo real” nos apresenta de forma tão intensa.


O espaço do cinema de Gray é o da família. O que os pais esperam dos filhos, o que os filhos esperam dos pais, o que todos esperam da vida, e afinal o que a vida tem a oferecer. Em Amantes (Two Lovers), Leonard (Joaquin Phoenix) é romântico, passional e bipolar, o que significa ser o típico personagem que dança na beira do abismo, debatendo-se perante a escolha pelo afeto e a compreensão de Sandra (Vinessa Shaw) e a paixão por Michelle (Gwyneth Paltrow).


Um grande cineasta não precisa de palavras para falar, ele usa o que a sua arte lhe oferece: uma câmera, um espaço e alguns rostos, nesse caso “todos os rostos” de Joaquin Phoenix. A câmera de Gray é a radiografia da dor, e a dor se apresenta num olhar perdido, numa foto de infância, num encontro num terraço de edifício ou num gesto de adeus.


O dilema não precisa ser dito, ele aparece num simples movimento: a câmera acompanha Sandra saindo do quarto de Leonard e retorna em direção à cama onde ele está sentado sendo guiada pelo seu olhar para a janela que mostra o apartamento de Michele. É o fluxo de consciência transformado em imagem.


A carência afetiva e a conturbação psicológica de Leonard ficam expressas numa Nova York cheia de gente, mas onde todos vivem sós na multidão. Na balada, a música alta, a dança e o agito servem como uma tentativa frustrada de abafar o silêncio, a melancolia e a sensação de abandono presentes em todo o filme porque fazem parte da natureza dos personagens (se é que também não fazem parte da natureza humana). Os silêncios e as palavras não ditas de um encontro mal-sucedido só são quebrados pelo vento gelado de um inverno que parece não ter fim (o da alma).


Em “Amantes” não há espaço para alívio cômico, cinismo, frases de efeito ou “belas declarações de amor”. Raros filmes mostram o quanto dizer “eu te amo” pode ser a coisa mais honesta, emocionante, angustiante e dolorosa de se dizer a alguém.


No final, o olhar de cumplicidade, afeto, resignação e compreensão trocado entre mãe e filho são a mais contundente constatação de que o homem e as suas escolhas, os seus desejos e sonhos são insignificantes diante da indiferença ou das escolhas, dos desejos e sonhos que a vida nos permite.

domingo, 3 de abril de 2011

abertura do ciclo platino!



Estréia do ciclo platino é hoje, às 19h na Casa de Cultura Pedro Wayne com Netto Perde Sua Alma. Entrada franca.

folhadosulgaucho.com.br

sexta-feira, 1 de abril de 2011

mês de abril: cinema latino-americano




Chamamos este de "ciclo platino":

05.04 - Netto perde sua alma (Tabajara Ruas, Beto Souza - 2001, Brasil)

12.04 - El Baño del Papa (César Charlone, Enrique Fernández - 2007, Uruguai)

19.04 - O Sabiá (Zeca Brito - 2010)
La Línea Imaginária (Gonzalo Rodriguez - 2008)

26.04 - Valentin - (Alejandro Agresti - 2002, Argentina)



Países platinos são o Uruguai, Argentina e Paraguai. Porém, costumeiramente e por compartilharmos de culturas semelhantes, associamos ao termo Argentina, Uruguai e Brasil (especificamente o Sul - no caso, nós).

Há possibilidade de contarmos com as presenças de Zeca Brito (diretor Bageense) e Gonzalo Rodriguez (diretor Uruguaio).