sexta-feira, 20 de maio de 2011

Rio – o filme: contemporaneidade na produção e retrocesso na ideia (resenha)



As animações têm seu encanto especial. E, não obrigatoriamente, significa a libertação da criança que há nos adultos. No Brasil, os curtas-metragens de  animação têm invadido festivais e conquistado diversos prêmios, como A Garota, do diretor Fernando Pinheiro e Leonel Pé de Vento, do gaúcho Jair Giacomini.

Nas telonas cinematográficas comerciais, recentemente esteve em cartaz Rio – o filme, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. A história se passa no Brasil – claro, o país das próximas Olimpíadas e Copa do Mundo – e trata do tráfico de animais silvestres. Porém, de uma forma sutil, no que tange a violência. Os criminosos são atrapalhados e oportunizam mais graça do que raiva ao espectador. Há um fundo romântico, para contrastar com o tema denso.

Os desenhos bonitos, um colorido excelente, o tema atual e um grande estúdio abriga a produção, entretanto, a retratação do país defasada. O Rio de Janeiro é uma terra de macacos; no Carnaval tudo para, inclusive a ponto de deixar os criminosos em dúvida quanto à prática do crime ou a festa, e, obviamente, muitas mulheres com pouca roupa pelas ruas, em meio ao trânsito. Além disso, os amigos brasileiros que a arara azul – personagem central do filme – conquista têm uma malandragem, cada um de uma forma, que impressiona quem chega de fora. Praticamente uma modernização do Zé Carioca. Para completar, há um órfão, que mora na favela, perdeu pai e mãe, precisa ajudar a bandidagem em troca de algum dinheiro. O final, não contarei, mas há ainda uma surpresinha no estilo do que foi narrado até aqui.

A dúvida é uma: até quando, sob os olhos da sétima arte, a representação do Brasil será aquela mesma vendida na década de 40?

3 comentários:

Maicon Antonio Paim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maicon Antonio Paim disse...

Penso que todo estereótipo tem um fundo de verdade. O Brasil é retratado dessa forma porque esse é o retrato do Brasil. Obviamente as comédias e animações exageram porque a caricatura e a brincadeira com os clichês fazem parte desses gêneros.

O exótico é o que interessa ao turista e é o que interessa à Embratur. O que o Brasil tem de semelhante aos países do Norte ou a outros países é descartado pois não é vendável. Portanto, é preciso mostrar aos estrangeiros e também aos brasileiros o que torna o Brasil reconhecível.

Mauro disse...

Sou partidário extremista radical contra esse tipo abordagem, justamente em função do que expôs o Maicon.

O "Rio" é um fenótipo politicamente incorreto do Brasil, mas subvertido como um modelo de vida e de comportamento, da boa-vida, da despreocupação e da carnavalização de todos os problemas crônicos que temos.

Se esta fosse uma peculiaridade que ficasse inerente somente ao povo do carioca não seria tão preocupante, mas verdade seja dita, esse modus vivendi é usado hora para "vender" um brasil paraíso de ingenuidade, ora para forçar um sentido de nação no Brasil, de união através da felicidade acéfala e inconseqüente do carnaval, coisa que nunca teremos.