sábado, 14 de maio de 2011

Uma longa viagem fotográfica



Existem filmes que foram feitos para serem saboreados aos poucos.

Como uma refeição que adoramos e, por isso, mastigamos o mais devagar possível para captar cada nuance do prazer que o alimento proporciona ao nosso paladar. É assim que são esses poucos filmes.

Então, numa época em que se percebia cada vez mais a tendência de construções rápidas e descontinuadas, com experimentações de corte, cores, efeitos visuais, tal qual um fast-food de sensações; eis que um diretor húngaro decide fazer um filme em preto em branco com tomadas extensivas, cortes raríssimos e incríveis 7 horas e meia de duração.

Trata-se do filme Satantango, do cineasta Béla Tarr.


A história se passa na em uma vila húngara na década de 80. Nesse período, com o fim do comunismo, o país havia se tornado uma bagunça e seu povo perdido de qualquer perspectiva de progresso.


É aí que chega a notícia de que Irimias, um agitador político até então dito como morto, estava retornando a vila afim de fazer uma proposta de mudança para seus habitantes e causando uma serie de agitações no povoado.


O filme é dividido em 12 partes onde, nas primeiras se observa o cotidiano de cada família da vila, tecendo-se então uma trama de acontecimentos que culminarão na chegada de Irimias.

1. As Notícias Estão Chegando
2. Ressurreição
3. Para Compreender Algo
4. O Trabalho da Aranha - Parte I
5. Eles Estão Vindo
6. O Trabalho da Aranha - Parte II (O Discípulo do Diabo, O Tango de Satã)
7. A Fala de Irimiás
8. A Perspectiva da Frente
9. Indo para o Paraíso? Tendo Pesadelos?
10. A Perspectiva de Trás
11. Apenas Problemas e Trabalho
12. O Ciclo se Fecha

Depressiva, chuvosa, fría, a vila é o grande personagem filmado por Tarr, dedicando seus longos e amplos takes para extrair até a última gota as sensações de cada personagem e cenário. E ainda assim, mesmo que o "tempo" pareça parar em alguns momentos, a câmera nunca está definitivamente parada, causando algo de hipnótico e contemplativo para cada segundo que o diretor persiste numa mesma cena.



Mais do que um filme, Satantango é uma viagem longa e sem volta, um aprendizado. Uma nova maneira de se enxergar a luz e a sombra sobre as pessoas e as coisas. Uma abordagem sensível e intimista de uma realidade que só pode ser mostrada assim: lentamente, no próprio ritmo da caminhada da humanidade.

4 comentários:

Giovani Andreoli disse...

: :

Bá, genial! Fico curiosíssimo. A proposta é monstruosa... Lembro que já havias comentado "ao vivo", noutra ocasião.

Inlcusive, com esta duração, renderia um ciclo inteiro no cineclube! Cerca de uma hora e quarenta e cinco minutos em cada uma das quatro terças-feiras do mês.

Independente desta característica chocante, as imagens (nas fotos) são realmente belíssimas. Acredito que a escolha do título do post foi muito feliz.

E é o tipo de material fora do grande circuito comercial que um cineclube se propõe a apresentar para o público.
_______

Mauro disse...

Ia comentar algo a respeito disso, de esse tipo de filme estar vinculado com a proposta de cineclube. Ou seja, talvez o único um lugar onde ele podería ser exibido.

Eu gostaria de vê-lo numa sessão especial no Santa Thereza. Um madrugadão Sorro. A idéia está posta!

Maicon Antonio Paim disse...

Há um documentário chinês de temática parecida chamado "Sobre os Trilhos", com duração de 9 horas. Se passa na Manchúria, uma área industrial abandonada após a reforma econômica na China. O doc é dividido em 3 ou 4 partes.

paulo funari disse...

Satantango é uma Obra-prima!! Um filme para se ter guardado e assistí-lo várias vezes.